Atravessando o deserto
puxando, empurrando um pesado barco,
grande, muito maior que o corpo, sem rodas,
na areia quente, nas rochas incandescentes...
O paradoxo lateja
mais que todos os músculos...
A tentação de dizer: “basta!”
queima mais que a garganta seca...
A sutileza de perguntar “por quê?”
uma sombra, que não se vê.
A floresta que aparece
confunde o seco navegante,
mato fechado, os espinhos, a subida...
fazem achar doce o deserto.
Inundado de calor úmido,
sente saudades do seco...
Mas sobe mato adentro
com criatividade e humor,
frutos da experiência.
Do alto da serra,
aparece o mar:
pequena parte do mistério do barco seco.
A descida, abrupta,
perigosamente pesada,
descansa na praia gentil.
Prepara-se o navegante seco
para enfrentar o Alto Mar,
sente-se pronto para tudo,
depois de tanta luta...
— “Coloca no barco tudo o que amas!” —
a ideia o agrada sobremaneira...
— “Empurra o barco para a água... deixa-o...” —
Despreparado para tudo, obedece
já perto do desvario...
"Recebe-me", repete silencioso,
"não sei se estou indo, no que amo,
ou ficando, no amar".
Mas o amor não podia ser diferente.
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